
Você é protagonista da sua vida?
A pergunta é mais simples do que parece. O problema, porém, é sempre a resposta.
INSPIRAÇÃO
Renato Crovella
3/7/20254 min ler
Quando eu falo de protagonizar a sua própria história, é óbvio que eu não estou falando de fazer só o que quer, quando quer e onde quer. Isso seria pura idealização. Como seres humanos, estamos "presos" nesse modelo natural das escolhas e consequências. E muitas vezes vivenciamos as consequências de escolhas que nem foram feitas por nós... O que é bastante frustrante, eu sei, mas "são as regras do jogo", das quais ninguém escapa: todos estamos na mesma arena, tendo que encontrar o equilíbrio entre tomar decisões e lidar com as consequências (repito: nossas e dos outros) impostas por um roteiro que, na maioria das vezes, não é escrito por nós.
Eu estar morrendo de calor no meu quarto, sem conseguir dormir há duas noites seguidas (porque há anos a humanidade vem degradando o ambiente em prol de lucro e produtividade), é um exemplo do que eu estou tentando dizer. O fato de eu não conseguir mudar isso ou me forçar a dormir em meio a tanto calor é um sinal de falta de protagonismo na minha vida? Como eu poderia assumir esse papel, então?
Eu não posso mudar, sozinho, o aquecimento global. Muito menos arranjar um ar condicionado no meio da noite. Mas eu posso culpabilizar a humanidade pelo descaso ambiental e ficar criando mil argumentos para reclamar disso em um blog que ninguém vai ler. Ou, alternativamente, eu posso entender que estar naquele quarto quente foi uma escolha minha e eu estou lidando com as consequências disso. Eu não posso mudar a conjuntura atual, mas eu posso tomar novas decisões que me levarão a um novo cenário.
Ser protagonista da nossa própria história, na minha visão, é tomar suas próprias decisões em relação às consequências (sejam elas suas, ou dos outros). Você tinha um emprego remoto estável e de repente o mundo corporativo começou a exigir que todos os colaboradores voltassem ao presencial e, pra piorar, mudou a liderança da empresa e você passou a não concordar mais com o que era solicitado de ti? Bom, não foram escolhas suas, embora seja você quem terá que lidar com a mudança de cidade, com a volta ao trânsito, a nova rotina, os sacrifícios, os estresses... Tudo aquilo com o que você se habituou a viver sem. Isso é justo? Claro que não! Mas o que você vai fazer a partir disso? Se você já vai ter que se mudar e não está feliz com o novo ambiente, porque não trocar de emprego? Ou mudar de vez pra uma cidade diferente, na qual você vai se sentir melhor? Talvez até mudar de carreira, sei lá.
Ou ainda, pode ser que você esteja num relacionamento estável, no qual você se sente confortável, com alguém que você ama, mas a pessoa decide terminar. E pior: revela que te traía e está terminando justamente porque se apaixonou pela outra pessoa e viverá uma nova história com ela. Isso é justo? Imagino que não também. Mas já que não tem mais jeito, que não foi escolha sua, porque você vai deixar o cenário ainda pior, tentando voltar, acompanhando a pessoa nas redes sociais pra ver como ela está sendo feliz e realizada sem você? Esperar que a pessoa se arrependa e volte? Nem pensar! Escolha priorizar você, aproveite pra fazer tudo aquilo que você sempre quis e a pessoa nunca topou. Se reúna com as amizades que aquela pessoa podou ou com quem você não tinha tempo pra estar.
Se lidar com as consequências impostas pelos outros está te deixando com esse sentimento de frustração tão grande, faça você as novas escolhas a partir do novo cenário apresentado. Ser protagonista da própria vida é também sobre viver o presente, a história que a versão atual de si mesmo(a) está vivendo. "Quem você foi" ou "quem você quer ser" não pertencem ao presente, não vivem o mundo em que você vive. Deixe essas versões como coadjuvantes para que você possa viver o agora com plenitude.
Falando assim parece fácil, mas eu sei que não é. Vai doer, vai ser difícil, vai ser frustrante. E talvez você esteja lendo este texto e pensando: "eu não aguento mais tomar decisões! Que saco! É o dia inteiro tendo que escolher entre isso ou aquilo, todos os dias!". Eu te entendo! Eu juro que te entendo... Mas quando a gente delega as decisões que moldam a nossa realidade, nós estamos também, indiretamente, delegando o que moldará o nosso caráter, a nossa forma de ver e viver o mundo.
É importante ressaltar, no entanto, que ser protagonista não é o mesmo que ser egoísta. Às vezes nós precisamos (ou queremos) assumir um posto mais de coadjuvantes para dar uma atenção a outras questões que não sejam sobre a gente. Tão bom quanto saber a hora de falar, é saber escutar, bem como há momentos mais indicados para assumir os holofotes e "partir pra cima" e momentos menos indicados para tal - nos quais devemos dar um passo para trás e apenas observar o desenrolar da história ou apoiar outras pessoas em suas próprias narrativas.
Protagonizar a própria narrativa pode ser só questão de focar em um aspecto da nossa realidade e fazer as escolhas que afetarão prioritariamente essa parte. Mas também há momentos nos quais é preciso barbarizar, chutar o balde mesmo. Aproveitar uma brecha, uma marola de mudança, pra abrir um abismo e causar um maremoto na nossa vida. Bagunçar tudo mesmo, pra derrubar algumas estruturas que foram criadas enquanto ignorávamos e delegávamos aspectos importantes do nosso ser.
E a partir dessa página em branco que se revela diante de nós, viver uma nova história. Com erros e acertos, mas com a esperança de que a cada novo capítulo de nossas vidas, nos tornamos mais fortes e conscientes enquanto caminhamos rumo aos "dias melhores". As consequências virão (essas danadinhas sempre vêm!) e precisaremos ter maturidade para lidar com elas, sejam elas boas ou ruins. Mas eu garanto: a sensação de estar lidando com os resultados dos próprios atos é melhor do que estar constantemente frustrado por viver "limpando a bagunça dos outros". Acredite: olhar para trás e ver que você passou um bom tempo da sua vida apenas vivendo a história de outras pessoas é muito triste...
Ser protagonista não é o mesmo que ser o autor: a história é sobre você, mas não é sua. Não é você quem dá as cartas, mas é você quem decide qual jogada fará com elas.
Renato Crovella
Escritor | GameDev | Desenvolvedor Web
Renato Crovella © 2024. Todos os direitos reservados.
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